domingo, 19 de maio de 2013

FinalMente

Lucianna gostava de futebol. Era Flamenguista. Mas não era fanática. Nem Maria-Chuteira. Gostava de ir aos jogos. Voltava rouca. Gritava. Xingava. Não sabia o nome de todos os jogadores, mas gostava de saber ao menos um pouco e ainda tirava onda nas conversas onde só os garotos falavam, quando o assunto era bola.
- Tá bom. Confessa ae que tu só vai pra ficar vendo as pernas dos caras…
- Claro que não. Tá, é claro que eu olho. Aquele monte de perna e bunda, mas se fosse só isso, ficava em casa vendo pela tv, mas quando você ama o time, tem que ir e sentir a emoção.
E realmente, era algo assim que a prendia. Coisa de pele, amor à camisa rubro-negra. E Jaime se aproveitou disso para se aproximar dela e quem sabe, tentar algo mais.
- Oi, gata. Já tem companhia pra assistir à final do mengão domingo?
- Oi Jaime. Estou vendo com uns amigos mas ainda não tem nada certo. E, eu fico tô bolada. Aquela torcida fulêra do vasco vai querer arrumar confusão com certeza. Mas nem sabia que tu era Flamengo…
- Então. Só não sou assim, fanático. Mas gosto de assistir. E camisa, não dá pra ficar usando direto. Tá foda de caro né?
- Pior que tá. Mas e então, você vai?
- Não perco essa final por nada nesse mundo. Só que como você disse, vai ser bem arriscado. Ía ser legal assistir o jogo contigo.
- É. Pode ser. Anota ae meu celular e me liga no sábado.
No sábado, Lucianna aguarda a ligação de Jaime. Último jogo da final. Ele até que era bacaninha. E de repente até rolava algo mais. O telefone toca e ela atende:
- Lucianna, e então, vamos assistir ao jogo?
- Oi Jaime. Cara, eu tô só aguardando a resposta de uma amiga minha, sabe o que é? É que eu já tinha até combinado com ela antes. Mas eu te ligo assim que souber, ok?
- Tudo bem – Ele diz. Vaca! Ele pensa.
Três horas depois, o celular dele toca, era ela.
- Jaime, então, tudo ok. Tá de pé ainda o convite pro jogo?
- Claro que sim. Te pego que horas?
- Hummm passa lá pelas duas. Ok?
- Tudo bem. Um beijo.
Às 14:05 Jaime pára em frente à casa de Lucianna e buzina. Ela aparece na portaria do prédio, vestida em traje de gala. Camisa oficial, boné – fica encantadora de boné, com ar de criança.
- Ué, cadê tua blusa?
- Nem te conto. Um puta acidente pouco antes de sair. Estava lanchando e acabei derramando mostarda. Dae tive que correr com ela pra máquina. Eu sou um desastre…
- É, não se pode estragar o manto sagrado. Espera ae que eu vou lá em cima buscar uma.
- Não! Não precisa.
- Faço questão. Imagina, numa final dessas tem que se estar de acordo.
Ela subiu e desceu de forma super rápida. E assim que entrou no carro, intimou que Jaime trocasse de blusa. Apreveitou pra dar uma espiada no tórax do rapaz.
- Escuta Lucianna, estava pensando se a gente não podia assistir o jogo em outro lugar…
- Opa, opa, opa. Se veio pensando em putaria, pode parar o carro que eu vou descer aqui mesmo!
- Calma Lucianna. Lógico que eu gostaría muita mais de assistir o jogo num lugar mais “só nós dois”.
Mas só estou falando de um barzinho bacana que eu descobri no centro. Vai ter uma galera lá. Além do que, nem tem condições de ir pro estádio. Tá um inferno aquilo lá.
- Ah bom. Err então desculpa. Vamos pra esse barzinho então.
- Depois falam que a gente só pensa em sacanagem. Tá vendo? Quem pensou primeiro foi você…
- Êhh já pedi desculpas né? Então vamos esquecer o assunto e simbora.
Chegando no bar, o clima é animado e descontraído.
Lucianna gosta do lugar. Das pessoas. Da bebida. Da companhia de Jaime.
Final do 1° tempo. Flamego 3 x 0 vasco. Todos cantando “Vice de novo!”. Lucianna bem alegrinha e um pouco “alta” agarra Jaime pela cintura e lhe tasca um beijo longo. O clima esquenta. Embalada pela bebida, pelo placar, ela sugere:
- Jaime, a gente podia ir assistir ao 2° tempo naquele outro lugar…
- Hã hein? – agora ele se faz de desentendido – do quê que você está falando?
- Aquele “só nós dois…”
Ela nem vê Jaime pagando a conta. Rapidamente os dois estão no carro, seguindo acelerado para um motel. Por causa do jogo e do clima, que esquentava cada vez mais. Era uma briga de mãos subindo, descendo, entrando na bermuda, soltando o soutien. Rapidamente os dois se trancam no quarto. Jaime fica alucinado pra tirar logo toda a roupa de Lucianna, mas ela o afasta e manda que ele se concentre no jogo. Ele resolve ir tomar uma banho. Lucianna olha a carteira dele na lateral da cama e fica tentada a dar uma espiada. Mulher é curiosa, mesmo não tendo nada sério, ainda. Mas ela se controla. E grita para que ele volte logo pro quarto, já que só faltam 10 minutos para acabar o jogo. Ele senta na beirada da cama e fica admirando o corpo belo da garota, que está só de calcinha e a blusa do Flamengo.
O jogo termina. Flamengo 5 x 1 vasco. Lucianna não se controla e vai até a janela gritar:
- É CAMPEÃO, POOOORRA!!!
Ela se vira e caminha na direção de Jaime, que boquiaberto, a vê tirando a blusa e lhe diz:
- Vem. Agora vamos comemorar…
E pula em cima do rapaz, sentando no seu colo e trançando as pernas em sua cintura.
Três horas depois, exaustos, ela volta do banho e começa a pegar suas roupas que estão espalhadas pelo quarto. Ele levanta e diz que também vai tomar um banho para irem embora. Recostada na cama, ela agora não resiste e pega a carteira do rapaz.
Cartão de crédito. Talão de cheque. Carteira de identidade. Camisinha. Um pedaço de papel com um monte de telefones anotados. A maioria de mulheres. E…
Lucianna fica pálida com o que encontra. Ela pega o documento e nem se dá conta que deixa a carteira cair no chão. Fica lá estática olhando aquele pedaço de papel colorido plastificado.
Filho da Puta! Carteira de sócio do fluminense!

® Postado no Blog antigo em 14.04.2004

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