domingo, 19 de maio de 2013

Véspera de Feriado

Há uns três meses não falava com ela.
Não sentia seu cheiro. Sua pele. Seu gosto.
 E até ela estranhou quando viu o nome dele na tela do celular.
 - Oi... Como é que você está?
- Bem, e você?
- Indo… E cheio de saudades. Queria te ver…
- Hummm não sei… Quando?
- Agora!
- Nossa! Mas você não está no trabalho?
Deveria estar. O chefe se despediu ao meio-dia, dizendo que ía almoçar e pegar a estrada. Casa de praia. Filho da puta. Saindo e largando ele lá, sozinho até a hora de fechar o escritório. Mas não dessa vez. Não hoje. Foda-se. Pensou enquanto fechava a porta principal, uma hora depois do chefe ter lhe desejado boa Páscoa. Logo ele, tão certinho… Mas resolveu se permitir aquela escapadela. Teve receio do chefe voltar por um motivo qualquer ou telefonar e ninguém atender. Sacudiu os ombros. É… Foda-se.
- Não. E você, está aonde?
- Em casa.
- Te encontro perto do relógio em uma hora…
- Ei, ei, não se empolga. Eu nem disse se vou…
- Ah pára de bobagem e vem logo. Não quer me ver?
- Tá bom. Até daqui a pouco.
Sabia o que viria a seguir. E ela também. Por isso a certeza de que ela não recusaria…
.
Uma hora e meia depois ela chegou.
Linda. Cheirosa. Deu um estalo em sua boca e disse:
- Vamos?
Táxi. Motel. Beijos. Mãos. Boca. Nossa! Como precisava daquela boca. Parecia que estava num tanque, submerso. E aquela boca era o único jeito dele respirar. De se salvar.
Força. Transpiração. O choque que aquela pele macia provocava nele, parecia ligar algo em seu cérebro. Entrava em transe. O gosto mudava. O calor aumentava. Aquele perfume parecia se espalhar por todo o quarto. Apertava a pele macia dela até marcar.
E com ela acontecia o mesmo. Ela demonstrava com a pressão da chave-de-coxa que aplicava nele, parecendo querer estrangulá-lo. Ou pelas camadas de pele que arrancava de suas costas com as unhas, deixando desenhos simétricos e ardidos. Ou pelo que seus olhos diziam, numa expressão mista e intensa de prazer-alegria-dor-entrega-malícia.
Suor. Explosão. Ele sentia o sangue percorrer todo o corpo numa velocidade espantosa. Quente. Tudo misturado. O gosto, o cheiro, a pele dela, as cores.
Ele sabia quando acontecia com ela ao tocar no seu braço, barriga, boca. Qualquer lugar. Ficava toda sensível. E o simples toque parecia liberar uma descarga elétrica, fazendo-a se contrair, gerando mais corrente. Hoje ela podería até iluminar uma cidade…
.
Varanda da casa dela. Escureceu. Ele a beija, se despedindo. Ela pergunta:
- Vai viajar?
- Acho que não.
- Quando é que a gente se vê?
- Não sei. Eu te ligo. Mas, você também pode me ligar, sabia?
- A gente já conversou sobre isso. Se fosse assim, ía ficar te ligando todo dia. Melhor você me ligar. Só espero que não demore mais três meses…
Ele sai andando. De costas até o portão. Como sempre fazia. E como sempre, jogou-lhe um beijo antes de sumir por trás do muro.

® Postado no Blog antigo em 09.04.2004

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