domingo, 31 de março de 2013

Clássico

Domingo. 34 graus. Calor. Multidão. 15:30.
Final de Campeonato. Estádio Mário Filho. O jogo começa às 16:00.
Cadê você, Marianna?. Maurício está agitado, procurando uma garota que ainda não conhecia. Pessoalmente. Só por conversas no msn. E troca de emails. Maluquice se encontrar aqui logo hoje… Ainda mais que ela parece toda retraída com “nada de confundir hein? Vamos só como amigos”. E realmente Marianna era assim, maluquinha. Maurício se assustou quando viu aquela beldade, loira, dez centímetros maior que ele. Olhos azuis.
Já a achava bonita pelas fotos, mas assim, ao vivo, foi um choque.
- Oi, Marianna…
- Maurício!!!
Ela pulou, abraçou e deu um beijão estalado na bochecha já vermelha do rapaz. Conversaram animadamente até se lembrarem que também foram ali para ver o jogo. Quando se aproximavam da entrada, um grupinho com uns cinco rapazes começou a mexer com Marianna.
- Ô princesa, vai ficar com esse amostra grátis ae, é?
- É, vem cá conhecer um flamenguista de verdade…
Maurício fez menção de reagir mas Marianna segurou seu braço.
Não precisava que a defendesse. Ela era forte. Muito.
- Vão à merda seus babacas.
Nisso um dos caras passa por Marianna e ela grita.
- Seu viado. Vai passar a mão na tua mãe.
Ela ainda tenta segurar Maurício, mas quando vê, ele está em cima do sujeito batendo, batendo, batendo. Até que chegam os amigos dele e se forma a confusão.
A vista de Maurício embaça. Vermelho. A mão dói. A cabeça dói. Mas ele não consegue parar de socar. Até sentir uma pancada na nuca. Turvo. A vista embaralha. Ele levanta e começa a socar outro. De repente tudo escurece de vez.
Maurício abre os olhos. Cheiro de éter. Gente chorando. Branco. Roupas brancas. A mão está engessada. Ele não consegue abrir a boca. A língua está enorme lá dentro. Ele passeia com ela e sente gosto de sangue. E a falta de três dentes. Um enfermeiro chega e pergunta se está tudo bem. E pede pra ele se levantar da maca.
- Confusão hein rapaz?! Tirando a mão e dentes quebrados, o olho roxo e umas pancadas que você tomou, até que não está tão ruim. Um dos sujeitos que você bateu chegou bem pior. Melhor até você torcer pra não acontecer nada grave com ele…
O enfermeiro o acompanha até a porta da saída da enfermaria e pede para que ele assine um formulário.
- Pelo menos a tua namorada tae te esperando.
- Err, ela nem é minha namorada.
- Porra e você brigou sem nem tá pegando a mulher? Só tem maluco nesse mundo…
Maurício começa a sentir uma pontada nas costas, a mão também começa a doer. O efeito dos remédios que lhe deram devia estar acabando. Mas de repente foi como se tomasse uma anestesia geral, ao reencontrar Marianna.
Fora o sorriso maravilhoso que ela deu ao vê-lo.
- Você é maluco, sabia?
- Ah é. Esqueci de te falar isso…
- Vem. Vamos lá pra casa. Não tem nem jeito de você ir embora assim.
- Tudo bem, mas me diz quanto é que foi o jogo?
- Quatro a um! Acabamos com a cachorrada…
Maurício tentou gritar e suas costas doeram mais ainda.
- Shiiiiu ei, sossega. Vem cá, deixa eu cuidar de você…

p/ Anna Carolina

® Postado no Blog antigo em 05.04.2004

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